É óbvio que sou pela auto-determinação dos povos.
Mas, neste país em que estou (o reino da Bélgica, para os menos contextualizados), existe uma grande pressão para que uma das partes se torne independente: a Flandres.
A argumentação é a de sempre:
1. A outra parte do país é mais pobre e só nos está a a consumir a riqueza pelos impostos.
2. Eles são completamente diferentes de nós, falam uma língua diferente, têm costumes e tradições diferentes.
A partir daí, se é este o argumento, acho que se devia partir o país em regiões. E as regiões em cidades e campo e as cidades em bairros, os bairros em ruas...
Quando cada casa fosse uma nação independente - sim, porque em cada rua há sempre casas mais ricas e mais pobres - é que começava a diversão.
Os pais haviam de querer tornar-se independentes dos filhos. Se há relação que existe uma parte da população que não compreende a outra e paga bem pago a sua perguiça, é a relação entre pais e filhos.
Declarada a independência, cada pessoa um estado, começariam os conflitos intra-corporais. A cabeça, raínha do corpo, não havia de querer ter nada a ver com as mãos sujas e toscas
e a palma de cada mão, argumentando ser diferente de cada um dos dedos, havia de exigir o seu direito à auto-determinação.
Não haveria osso ou tecido que sobrevivesse até que cada elemento da tabela periódica não declarasse a independência. Imagine-se se o ouro se havia de misturar com o ferro...
Depois entra a ética. Será que o ouro, ele próprio, seria capaz de conviver com um passado de vergonha. Não seria o ouro nazi, arrancando ao dente do judeu, ostracizado ele próprio pelas restantes moléculas que "não concordam com a sua ética".
Cada átomo então... cada átomo um estado auto-determinado. E mesmo assim não chega. O que diriam os electrões, ocupando as suas órbitas, dos electrões que estivessem nas outras. E o que diriam dos próprios electrões que ocupam a mesma órbita mas que, naquele momento, não estão no mesmo sítio. Se há diferença que nunca será resolvida, é a do "eu" estar num sítio e o "ele" estar necessariamente noutro. Quanto a isso não há volta a dar-lhe: auto-determinação.
Ficariam pois os protões e os neutrões sozinhos no universo, como era tradição e costume acontecer nos tempos idos do big bang. E talvez nessa altura, como aconteceu com aquele protão revolucionário - e extremamente mal visto - do átomo de hidrogénio primordial, um deles volte a dizer:
- Sabes, neutrão, somos em tudo iguais, pesamos o mesmo, temos a mesma matéria dentro de nós. A única diferença é que eu, protão orgulhoso de mim próprio e dos meus irmãos, sou positivo (+)! É essa a minha grandíssima e inimitável virtude e, por isso, nunca seremos iguais.
Mas será, neutrão, que és menor que eu?
E talvez nessa altura, volte a nascer qualquer coisa de bom.
Tuesday, February 20, 2007
Wednesday, February 14, 2007
A triste sina do marinheiro...
É certo e sabido que, quando se vive no meio de pessoas estrangeiras, se ganha uma nova consciência do sítio de onde vimos e do quanto isso nos identifica. E é verdade que os que partem são, normalmente, mais ciosos da sua origem e do que ela respresenta.
Mas alguém que vive algum tempo no meio de pessoas estrangeiras, compreeende os seus vícios e, se lhe derem tempo suficiente, até os adquire. E quando regressa para junto da família e dos amigos já não é exactamente como eles. Pior, já vê para além deles e passa demasiado tempo a prestar atenção ao do que eles são feitos. Um bocado como alguém que vê um mau film de stop animation, em que se percebe demasiado a impressão digital sobre a plasticina, percebe como é que as coisas são feitas e perde-se o feitiço que faz correr o tempo como se nada fosse.
E depois volta ao estrangeiro, e depois a casa outra vez...
E acaba, ao fim e ao cabo, quando está no meio de estrangeiros, por ser um exemplo sublime e acabado daquilo que já não consegue ser em casa.
Mas alguém que vive algum tempo no meio de pessoas estrangeiras, compreeende os seus vícios e, se lhe derem tempo suficiente, até os adquire. E quando regressa para junto da família e dos amigos já não é exactamente como eles. Pior, já vê para além deles e passa demasiado tempo a prestar atenção ao do que eles são feitos. Um bocado como alguém que vê um mau film de stop animation, em que se percebe demasiado a impressão digital sobre a plasticina, percebe como é que as coisas são feitas e perde-se o feitiço que faz correr o tempo como se nada fosse.
E depois volta ao estrangeiro, e depois a casa outra vez...
E acaba, ao fim e ao cabo, quando está no meio de estrangeiros, por ser um exemplo sublime e acabado daquilo que já não consegue ser em casa.
Monday, February 12, 2007
The Frames
This song is the optimistic tale of a dog with three legs,
that is dying of cancer,
in a sinking boat,
in the middle of the sea...
There is always hope.
that is dying of cancer,
in a sinking boat,
in the middle of the sea...
There is always hope.
a triste sina do marinheiro...
... com saudades da terra quando está no mar
e com saudades do mar quando está em terra.
e com saudades do mar quando está em terra.
Subscribe to:
Posts (Atom)